Tintim na América #1



Aeroporto George Bush, Houston.
Afinal vim parar bem mais longe do que ao Dark Side of the Moon. Preparem-se vocês também para uma viagem à América profunda, aquela onde a realidade, aqui ou no Iraque, supera sempre Hollywood.

O projéctil que me levou em busca da América demorou dez horas e meia a fazer o trajecto Londres-Houston. O piloto culpou os ventos, eu culpo a trajectória que ele fez. Mas a viagem não foi má: havia uma escolha de 250 filmes e 250 séries de televisão. Demasiada escolha! Não consegui ver nenhum, limitei-me a ler sinopses e a ver trailers. Devo ter visto uns 150 trailers.

Houston foi só mais uma escala. Enquanto esperava pelo próximo voo, no aeroporto George Bush, percebi logo que estava num mundo diferente: tinha chegado ao planeta de origem de Jabba the Hutt, o monstro morbidamente obeso e hermafrodita de Star Wars. É impressionante. Os monstros passeiam-se no terminal do aeroporto com dificuldade, são obesos mas não maciçamente obesos como em Portugal ou na Europa. São muito obesos e em sítios improváveis, deformados, enormes, moles, com rabos e barrigas enormes, a cair para os lados... E são todos assim. Lembro-me de ter visto em Super Size Me que Houston é a cidade com mais obesos da América. Na obesidade, mais do que em tudo o resto, faz sentido a frase de que os texanos tanto se orgulham e que se lê em todas as matrículas deste Estado: "Everything is bigger in Texas". Pergunto-me: porquê??? mas porquê??? E, num daqueles raros momentos em que me sinto iluminado, olho para baixo e encontro a resposta: estou sentado num restaurante tex-mex do aeroporto chamado Chilly's, à frente de um gigantesco prato de "totopos con salsa picante", que me custou 2 dólares e bebo uma margarita carregada de sal e açúcar que deve ser mais ou menos de um litro.

Esta descoberta brilhante levou-me a outras divagações. Lembrei-me, por exemplo, que de cada vez que venho à América, cago diferente. Enquanto em Portugal largo umas caganitas, na América não. São uns cagalhões enormes, que se espraiam por toda a sanita, grossos, poderosos, invasivos. Enquanto estou com estes pensamentos, sou admoestado por uma intervenção do meu companheiro de viagem, que se lamenta, ao ver uma senhora com um rabo ainda maior que os outros, que "o rimming ali deve ser difícil".

Embrenhado nestas asserções filosóficas, decidi perguntar-me, como se perguntou Bernard-Henri Lévy na "Vertigem Americana":
- Não será esta execração anti-americana uma forma de fascínio?
Pensei um pouco e respondi-me:
- Não.