(interior da Biblioteca ou Great People's Study Center)
6 de Setembro
Visita guiada a Pyongyang. Começamos pelas origens, uma visita ao local de nascença de Kim Il Sung, no subúrbio da cidade, transformado num santuário de peregrinação. Uma cabana modesta, agora integrada num parque enorme. O nascimento foi em 1912 e esse ano deu origem a um novo calendário, pelo que o ano de 1912 para eles é o “Juche 0” e agora, em 2006, estamos no “Juche 94”. Kim Jong Il, o filho, terá nascido em 1942, também numa cabana, no sopé do monte Paektu, um monte sagrado desde há séculos para os coreanos, num dia em que dois arco-íris cruzaram os céus. A ocasião está imortalizada em painéis públicos por todo o país, mostrando o monte e a cabana. Investigámos e o pai estava exilado na União Soviética naquele ano. Resistimos a perguntar aos guias como é que isso se explica. Desde pequenos que estamos habituados a outras lendas sobre Messias que nascem em cabanas.
Nesse dia, outra visita para lembrar foi à biblioteca nacional, um edifício monumental, com centenas de salas, todas decoradas com quadros dos dois Kims. Descobri que têm Internet, embora só com acesso a sites norte-coreanos: “temos mais de 50 sites, só do nosso país” – disse a guia.
7 de Setembro
Viajámos até Wonsan, na costa leste do país. Nas estradas, as pessoas andavam a pé. Eram quase todos militares (serviço militar obrigatório de 5-8 anos para os homens, 3-5 anos para as mulheres). Comecei a ver vários camiões militares, todos a deitar uma enorme cortina de fumo do motor. Não era possível estarem todos avariados! Pois não. Eram movidos a carvão. Os soldados vão deitando carvão para servir o motor, ao longo da viagem. Bela forma de reduzir a dependência do petróleo.
Vamos vendo enormes colunas de betão, de um lado e do outro da estrada. Têm que estar prevenidos: as colunas são para dinamitar, se houver uma invasão de sul.
Em Wonsan aprendemos o significado de um dos pilares do regime, o conceito de “on the spot guidance”. Kim Il Sung passou a vida a visitar o país e dar instruções em cada local (“on the spot”) sobre como fazer as coisas. Em cada local onde ele foi há uma tabuleta em pedra a assinalar o acto, indicado a data e o que ele disse. Então, fomos a um templo budista, um dos poucos autorizados, em que o monge nos contou como Kim Il Sung lhe tinha ensinado a praticar o budismo; a uma cooperativa agrícola onde ele ensinou aos agricultores como cultivar; e por aí fora. Na cooperativa, a responsável contou-nos uma história que parecia tirada da Bíblia: quando Kim Il Sung lá foi, nos anos oitenta, o responsável da cooperativa disse-lhe: “nesta árvore devem estar uns quinhentos frutos”. Ele respondeu-lhe: “não, estão uns oitocentos”. Contaram-nos: havia 803!
Nesse dia ainda visitámos um campo de férias infantil, a quem o Querido Líder Camarada Kim Jong Il tinha oferecido pessoalmente a tenda, o escorrega, etc. Era ali que começava a entronização.