Champix playlist

Descobriram agora que o remédio com nome de champô que eu ando a tomar há um mês para deixar de fumar dá ideias suicidas (notícia aqui).
Como calculam, não me apetece nada ficar à espera de ver se a história é verdadeira ou se, pelo contrário, é mais um golpe falacioso do lobby das tabaqueiras.
Tive então a ideia genial de oferecer esta minha playlist a todos vós que, como eu, andam a tomar Champix:


They say 'Jump'
Juuuuummmppp


When the day is long and the night, the night is yours alone,
When you're sure you've had enough of this life, well hang on


Tell me how do I feel
Tell me now how should I feel


I wish "If only..."
But "If only...."
Is a wish too late...


And I find it kind of funny
I find it kind of sad
The dreams in which I'm dying
Are the best I've ever had


Accept the pain, for all who ever tried
For all who tried.


Por um simples psicodiagnóstico dos comentários que me forem chegando, assim decidirei se páro de tomar ou não.

Não liguem a isto

Mas como quero mais visitas ao novo blog vou escrever aqui um conjunto de palavras sem sentido mas que são muito procuradas no Google.

Mikael Carreira site oficial
Cláudio Ramos
Claudisabel
Mónica Sintra
Teresa Guilherme
Kate matou filha
Maddie
Maddy
Meddy
Médy
Médi
Operação Triunfo
Tardes da Júlia
Vídeo Fernanda Serrano
Leave Britney alone
The picture Tom Cruise doesn't want you to see

Curso de Relações Internacionais

- Ficha de Avaliação -

Leia atentamente a seguinte notícia:
O Presidente venezuelano chegou ao aeroporto de Lisboa - vindo de Paris - pelas 20.30, ou seja, quase com duas horas e meia de atraso. Tinha a aguardá-lo o secretário de Estado português das Comunidades, António Braga, o ex-Presidente Mário Soares ("pivot" nas negociações petrolíferas entre a Galp e o governo venezuelano) e ainda a administração da petrolífera portuguesa. Falando a jornalistas, voltou a exigir um pedido de desculpas do Rei de Espanha por causa do "por qué no te callas !" da cimeira ibero-americana(...). A comitiva venezuelana rumou depois à residência oficial do primeiro-ministro, que o aguardava para jantar. José Sócrates multiplicou-se em agradecimentos: "Está em sua casa", disse, declarando-se "honrado" por receber o chefe de Estado venezuelano em Lisboa. "Esta visita expressa a amizade entre os dois povos", sublinhou.
DN, 21 de Novembro de 2007

1. Ponha a cruzinha no sítio certo.
A conversa ao jantar foi sobre:
a) as contínuas violações aos direitos humanos e ao exercício da liberdade de expressão na Venezuela;
b) a insensatez da decisão de Chávez de proceder a uma profunda revisão da relações políticas económicas e diplomáticas com Espanha, obrigando as empresas espanholas a um regime especial, tudo porque se sentiu humilhado quando o Rei de Espanha o mandou calar;
c) as tentações ditatoriais de Chávez, implícitas na sua decisão de mudar a Constituição para ser Presidente até morrer;
d) as negociações petrolíferas entre a Galp e o Governo venezuelano.

2. Pergunta de desenvolvimento.
Faça o elogio do pragmatismo da diplomacia portuguesa, à luz das seguintes decisões recentes de política externa:
a) recepção a Hugo Chávez;
b) a Putin;
c) a Mugabe;
d) visita oficial de Sócrates à China;
e) recusa do Governo em receber o Dalai Lama;
f) silêncio ensurdecedor em relação à guerra no Iraque;


3. Comente a seguinte frase:
"Ser diplomata não é ser cínico".

Adoro gente desequilibrada #1

Paul McCartney's estranged wife Heather Mills Monday accused consumers of meat and dairy products of fueling global warming, as she launched a vegan campaign at London's famous Speaker's Corner.
Mills, who is engaged in an increasingly bitter divorce battle with the former Beatle, suggested that people could drink the milk of rats or cats, rather than milking cows.
Viva, an animal rights campaign group, claims that dairy and meat products are major causes of greenhouse gases.
"There are fields and fields of grain just miles from starving children in Africa, being shipped to Europe to feed our livestock," she said, unveiling billboards for the campaign at the Hyde Park corner site.
"There are 25 alternative milks available in health shops and supermarkets," she added, saying she turned vegan when an African woman at Live 8 asked her: "Why don't people stop drinking cows' milk lattes?"
"Why do we not drink rats' milk, cats' milk or dogs' milk?"

Classificados #2

Maddie o Musical teve o patrocínio de Aya Tsukioka Anti Rape/Mugging Design Dresses.

Maddie o Musical #15

(Flashback continua)
Maddie levanta-se do triciclo e volta para o quarto. Os acontecimentos precipitam-se. Eis o que aconteceu a Maddie naquela noite do seu desaparecimento, no Ocean Club da Praia da Luz:

Maddie o Musical #14


Flashback.
Ocean Club, noite do desaparecimento de Maddie, após os pais terem deixado os três filhos na cama e saído para jantar no Tapas Bar.
Maddie acorda, sentindo-se tonta, com a cabeça à roda. O "rebuçado" que a mãe lhe dera não tem o efeito pretendido. Maddie decide então ir procurar a mãe. Pega no triciclo e lá vai ela, ansiosa, pelos corredores do hotel.
No caminho, encontra os gémeos. Assusta-se. Parecia que os tinha visto a dormir sossegadamente no quarto. Maddie fica confusa. O que se passa? Estará a alucinar?


Hello Maddie.
Come and play with us.
Come and play with us, Maddie.
Forever and ever and ever.

Maddie o Musical #13

Alguns jornais portugueses noticiam que a polícia acredita que Madeleine, meio grogue, terá caído das escadas do Ocean Club. A tese das escadas alicerça-se nas análises do laboratório de Birmingham, que mostram que há ADN da Maddie por tudo quanto é lado naquela casa, incluindo nas escadas.

O chico-esperto portuga junta as peçazinhas do puzzle e começa então a ver o filme todo:

No dia 3 de Maio, no Ocean Club, Kate, dá aos filhos gémeos e a Maddie uma dose de Calpol, para os pôr a dormir e poder ir para a night com o marido. Os gémeos adormeceram com a sua dose habitual mas a Maddie, a hiperactiva, deram-lhe (a mãe) dose suficiente para elefante, só que numa ida a casa Maddie estava acordada e ela deve ter-lhe dito para ir dormir, a miuda deve ter dito que não, ela dá-lhe uma galheta, a miudinha voou até às escadas e como estava drunfada, caíu, bateu com a cabeça e morreu instantaneamente. Kate acagaça-se toda e conta ao marido o que fez, então o que fazem? pegam na miuda, colocam-na no carro alugado (provavelmente nunca saiu daquele grupo de 9 ingleses), leva a miúda até perto da igreja, logo deve haver um cemitério nas imediações, e das duas uma: ou cremaram o corpo da miúda e aí não há cinzas e vestígios, porque devem ter feito eles desaparecerem, ou retalharam o corpo e enterraram ou na praia ou no cemitério ou mesmo numa área qualquer do Algarve, e depois de tudo orientado, vai a Kate no papel de mãe desesperada, monta o circo do rapto, dizendo aos amigos que entretanto já se tinham enfrascado com 14 ou 15 garrafas de vinho que “eles levaram-na”. Liga para a Sky News e para o PM Brown, antes de ligar para a GNR a informar do desaparecimento da filhinha - que entretanto desaparece de circulação. Lembram-se então de quem? do amiguinho, pedófilo da aldeia, Robert Murat, que serviu para afastar as suspeitas sobre os pais - tipo ilusionismo - devido ao tipo de vida que levava Murat (que ninguém tem a ver com isso) íam apontando Murat como suspeito nº 1, enquanto os pais de Maddie faziam tudo para ver se conseguiam ficar limpos e serem heróis. Gordon Brown, manda um assessor de imagem e porta - voz para o casal. Ah, ainda falta dizer que em 12 dias arranjaram um fundo monetário para procurar a miuda, ou seja procurar um fantasma. Este circo manteve-se com alguns ingleses a dizer que tinham visto a miúda aqui e além, chegando a 2500 pistas falsas, que ajudaram a atrasar este caso. Claro como água! Os McCann enganaram-nos bem enganados! E nós que fizemos tanto por eles! Fizemos tudo por eles! Mas agora... agora não nos enganam mais!

- canta o chico-esperto portuga, melancólico e desenganado:

Maddie o Musical #12

em nome de Quem?

Uma psicóloga diz ter visto a menina desaparecida na companhia de dois adultos, num bar belga, a comer um iogurte. As autoridades locais já emitiram um alerta e o badalhoco recipiente do iogurte irá ser alvo de pesquisa de ADN.
Não há nenhuma informação concreta quanto ao paradeiro de Maddie, mas a nova pista relança a investigação.

- Neste momento, já em total desespero, a menina, onde quer que esteja, canta:

Maddie o Musical #11

Oslo, Noruega.
A turista norueguesa Marie Olli, com a sua pele branca ainda avermelhada do Sol, diz aos repórteres que viu Madeleine em Marrocos a perguntar a um indivíduo marroquino "can I see mommy soon"? Um outro turista, de origem inglesa, relatou também ter visto uma rapariga correspondendo à descrição de Maddie, acompanhada de um homem, no hotel Ibis em Marrakesh.

- Nevoeiro. Do meio do nevoeiro surge a imagem de Maddie, cantando:

Fui de visita à minha tia a marrocos
Hip Hop
Fui de visita à minha tia a marrocos
Hip Hop
Fui de Visita à minha tia
Fui de visita à minha tia
Fui de visita à minha tia a marrocos
HipHop
singingai yuppy yuppy ai
singingai yuppy yuppy ai ai ai ai
singingai yuppy yuppy ai
singingai yuppy yuppy ai ai ai ai



Maddie é vista um pouco por todo lado, sempre acompanhada por homens.

- Canta novamente Maddie, charmosa e insinuante:


On the good ship lollipop.
Its a sweet trip to a candy shop
Where bon-bons play
On the sunny beach of Peppermint Bay.

Lemonade stands everywhere.
Crackerjack bands fill the air.
And there you are
Happy landing on a chocolate bar.

See the sugar bowl do the tootsie roll
With the big bad devils food cake.
If you eat too much ooh ooh
You'll awake with a tummy ache.

On the good ship lollipop
Its a night trip into bed you hop
And dream away
On the good ship lollipop.

Maddie o Musical #10


Enquanto a imprensa assinala os cem dias após o desaparecimento de Madeleine, a polícia portuguesa começa finalmente a suspeitar que talvez o casal McCann pudesse estar envolvido na morte da pequena. Que talvez tivesse dado jeito retirar amostras de ADN do apartamento e do carro do casal, logo após o seu desaparecimento. Que talvez não tivesse sido má ideia fazer umas escutas telefónicas ao casal. Que talvez tivesse sido uma ideia brilhante pôr um agente à paisana a seguir os passos do casal durante estes cem dias. Enfim, que afinal talvez não estivessem a seguir os passos de Poirot e mais os de Clouseau...

- Enquanto come uma sandes de couratos e se enfrasca em carrascão de Setúbal, o coordenador da PJ de Portimão, Gonçalo Amaral, coça a cabeça e canta:

Maddie o Musical #9

Kate e Gerry lançam uma nova campanha a realçar o facto de a filha ter um "olho mau", com o objectivo de ajudar à identificação de Madeleine.

- Assistindo a isto, canta Madeleine, lá onde quer que se encontre:


I've seen it all, I have seen the trees,
I've seen the willow leaves dancing in the breeze
I've seen a man killed by his best friend,
And lives that were over before they were spent.
I've seen what I was - I know what I'll be
I've seen it all - there is no more to see!

Maddie o Musical #8

Na sua primeira entrevista, os McCann, sempre de mãos dadas, confessam que a "culpa" que sentem por ter deixado os filhos sozinhos, nunca os abandonará.

- Sem nunca largar a mão do marido, Kate McCann levanta-se e canta:

Maddie o Musical #7

Cidade do Vaticano.
Kate e Gerry, vestidos de preto, são autorizados a aproximar-se do Papa a menos de 1 quilómetro. O Papa, humilde, simples e acessível como sempre, ouve de Kate uma Avé Maria. Gerry dirige Kate.

Maddie o Musical #6


David Beckham, antigo capitão da selecção inglesa de futebol e sex-symbol internacional, com a preciosa ajuda de um teleponto, faz um emocionado apelo televisivo para o regresso de Maddie. Contudo, os raptores ficaram sem perceber se ele se estava a oferecer como moeda de troca.

- Canta David Beckham, como se estivesse no lugar de Maddie:

Maddie o Musical #5


Continua o flashback.
Kate dá um abraço à sua filha, prepara-lhe um "rebuçado" e enfia-a na cama. Debruça-se sobre ela e deseja-lhe bons sonhos. Maddie recusa o "rebuçado".

- Canta Kate McCann:



A spoonful of sugar helps the medicine go down
The medicine go down-wown
The medicine go down
Just a spoonful of sugar helps the medicine go down
In a most delightful way


Maddie toma uma colher de açúcar e aceita o "rebuçado".

(continua)

Maddie o Musical #4

Flashback.
Nessa noite, um pouco mais cedo. No apartamento de férias do Ocean Club, Kate e Gerry preparam-se para a noite fora. Gerry, enquanto vaporiza "Pour Homme" na sua face, tronco e pescoço, lembra a Kate que Madeleine chorou durante horas na noite anterior, quando a deixaram sozinha com os dois gémeos, Sean e Emily. Kate exibe um sorriso enigmático, bate levemente o marido no ombro e diz-lhe que vai pôr as crianças na cama. Ao entrar no quarto, enquanto veste Madeleine com o pijama, a criança diz-lhe: "mother, I had the best day ever".

- Canta Madeleine McCann, hiperactiva (acompanhada em coro pelo gémeos):



I'm so excited, and I just can't hide it
I'm about to lose control and I think I like it
I'm so excited, and I just can't hide it
And I know, I know, I know, I know
I know I want you




Maddie o Musical #3

Com razorblade




Na casa de banho do restaurante do Ocean Club, Kate olha-se ao espelho e repara que as madeixas, que tinha feito há quinze dias, já perderam toda a graça. É notória a consternação na sua expressão preocupada. Solta o cabelo, abana a cabeça como nos anúncios dos champôs, e diz para si mesma: "Que aborrecimento, amanhã tenho de ir ao cabeleireiro". Depois, esbugalha os olhos e lembra-se que tinha de fazer um telefonema. Não se lembra é para onde. "O Mateus Rosé não me faz nada bem à cabeça", diz, ainda em frente ao espelho.
Resolve, então ir até à recepção do aldeamento. Sempre com um ar muito pensativo, chega à recepção e olha para o telefone. A televisão do lobby do hotel estava na Skynews. Kate detem-se, faz um esgar e lembra-se que a filha tinha desaparecido. Olha para o telefone, olha para a televisão e diz para si mesma: "Recusaram-me quando concorri a locutora de continuidade, mas agora vão ter de levar comigo."
Marca um número e canta:



Depois de desligar, pensa: "Se calhar dava jeito telefonar também para a polícia." Faz uma careta, revira os olhos e no fundo do palco aparece a imagem de um homem fardado, baixo, de bigode e com um palito na boca.

Uma garrafa de Mateus Rosé depois, dois polícias aparecem na recepção do Ocean Club. Kate surpreende-se pois se um dos polícias era como tinha imaginado, mas sem o palito, o outro era um rapaz todo garboso. Kate corre para este, com o brinquedo preferido de Madeleine, um gato de peluche, apertado com ambas as mãos entre os seios e diz, com os olhos muito abertos e um desespero na voz: "Mr. Policia, minha Maddie raptada. Eu sei, eu sei... (ligeiros soluços)... cuddle cat dela estar parapeito da window aberto. Maddie muito small para chegar lá, Mr. Policia."

O polícia, que não gostava de Mateus Rosé mas tinha uma especial predilecção por carrascão de Setúbal, olha para os seios arrebitados de Kate e murmura numa voz quase imperceptível: "Ah! se eu fosse esse gato..."

O jovem polícia canta, como num sonho:


Com uma expressão confusa, Kate responde: "Que diz, Mr. Policia?" Ele abana a cabeça, como se despertasse de um sonho, e responde: "Se ao menos o gato falasse, Madame, se ao menos o gato falasse poderiamos ficar a saber o que aconteceu à pequena!"

Os dois são intrerrompidos pelo primeiro polícia algarvio que, enquanto cofia o bigode, como Poirot, acrescenta em tom filosófico: "Nasce a gente e de repente corre este risco sem par de morrer logo à nascença ou de ter que cá ficar". Kate, confusa, volta a perguntar: "Como diz?"

Canta o primeiro polícia:



(continua)

Maddie o Musical #2

Meia noite. No passeio junto à praia, ouvem-se as ondas ao fundo, a lua está cheia e a noite está estrelada. Enquanto a polícia e empregados do Ocean Club procuram por Madeleine, o cardiologista de classe média Gerry McCann, envergando um pólo azul-bébé, olha para o céu, melancólico.

- Canta Gerry McCann:



So my baby's on the road
Doing business, selling loads
Charming everyone there
With the sweetest smile
Oh tonight
I miss you
Oh tonight
I wish you
Could be here with me
But I won't see you
'Til you've made it back again

Maddie o Musical #1


Tapas bar no Ocean Club da Praia da Luz. Oito pessoas sentam-se à volta de uma mesa, conversando e rindo. Em cima da mesa estão 14 garrafas de vinho vazias, incluindo vários "Mateus Rosé".

- cantam todos em coro:


Subitamente, a médica de família Kate McCann aproxima-se da mesa a um passo rápido e grita: "They have taken her! They have taken her!".

- canta Kate McCann:



(continua)

Tintim na América #7


Carlopod goes to Hollywood

"THE WAIT IS OVER!" - Este desabafo foi a primeira coisa que vi, num enorme e flashante sinal luminoso, assim que cheguei a Los Angeles. Percebi logo a seguir a que se devia a angústia da espera, quando vi os focinhos dos Beckham a surgir no ecran. Vim a saber depois que tinham chegado na véspera e que a cidade estava histérica. Lembrei-me de uma t-shirt que tinha visto num indivíduo em Madrid com a estampa "Aburrido de los Beckham" e achei curioso o contraste. Acho que eles fizeram bem em se mudar.

Estava um bocadinho longe da América profunda, onde começou esta jornada. Primeiro que chegasse ao centro da cidade, demorei à vontade mais de uma hora. Aquilo nem tem centro! Los Angeles é a anti-cidade. É um emaranhado de estradas com mais ou menos 80 Km de diâmetro. Meti-me no Sunset Boulevard, com grande entusiasmo, que estava convencido que reconhecia do filme, mas não reconhecia nada, até que topei que tem umas dezenas de quilómetros e vai até à praia.

L.A., contando com os arredores, tem uns 20 milhões de pessoas. E todas elas têm um carro, pelo menos. E nenhuma delas sabe guiar (pelo menos, não sabem conduzir de marcha-atrás). E gostam todos de carros grandes. Lembram-se que vos falei dos "Hummer", que passaram de veículo de combate para carro de passeio? Pois há quem conduza um Hummer assim (santa paciência!):


O que salva a cidade são as praias. Estive numa praia fixe. "Venice Beach". É daquelas praias cheias de actividades, com grandes misturas étnicas e sociais, com skaters, malta de patins, surfistas e uns cromos a fazer musculação ao ar livre (nos espaços onde em Portugal normalmente haveria parques infantis, com baloiços e escorregas, eles cá têm máquinas de musculação ao ar livre). Mas o ambiente fervilhava de actividade e os graffiti, muito bons, davam bom aspecto àquela zona da cidade. É uma zona cara, a avaliar pelas casas de arquitectura contemporânea fantásticas, mesmo de cair para o lado. Dei comigo a morrer a rir quando vi esta tabuleta no jardim de uma delas:

Acredito que só para poder ler isto depois, já dava gosto envenenar o cão.

No dia seguinte, fui então até Hollywood, onde não resisti a fazer um daqueles 'tours' às casas das estrelas, alegadamente para poder dizer mal, mas lá no fundo com genuíno interesse frívolo e insciente. As casas não têm interesse arquitectónico nenhum, são mesmo uma tristeza, mas fiquei a saber coisas importantíssimas, como por exemplo que Sean Connery é o vizinho da frente de Snoop Doggy Dogg; ou que Cher pôs a casa à venda porque tem excursões de turistas à porta todos os dias de 15 em 15 minutos; que Christina Aguilera lhe comprou a casa (provavelmente porque tem excursões de turistas à porta todos os dias de 15 em 15 minutos). Fiquei a conhecer o local onde Hugh Grant recebeu o broche de Divine (pronuncia-se em francês - Divine) - e também fiquei a saber qual a caixa multimbanco onde ele levantou o dinheiro para pagar a conta. Estive no parque onde George Michael foi, como se lembram, "passear o cão". E vi vários prédios da Igreja da Cientologia, incluindo um que se chamava Cientology Celebrity Center. Spooky...


Voltei de L.A. para San Diego de comboio. Estava carregado de gente esquisita, que ía para uma terreola qualquer assistir a umas corridas de cavalos. Bêbados. Elas bêbadas de champanhe; eles bêbados de cerveja. Elas, todas, de chapéu - para imitar as inglesas - mas, como não têm classe, vestidas um bocado à puta; eles, com a descontracção habitual, vestidos praticamente de pijama. Estes americanos são uma beca saloios, para padrões europeus, pensei eu. E esta foi a cereja no topo do


THE END

Tintim na América #6


Khalifornia

Já devem ter topado que vou escrevendo isto à medida que posso, portanto o que aqui deixo corresponde normalmente ao que me lembro de ter acontecido uns dias antes e não propriamente ao que está a acontecer agora.

Continuando a partir do ponto onde tínhamos ficado, na Flórida: seguindo sábios conselhos, parti com o meu companheiro de viagem, para a costa oeste. Podia perder-me aqui com descrições poéticas bucólicas da beleza da paisagem ao longo da Interstate 10 (que liga os Estados Unidos de uma ponta à outra), mas estou firmemente convencido que perderia toda a clientela que me segue mais assiduamente no blog (e que, basicamente, se alimenta de veneno). Então direi apenas que a paisagem era castanha e que se quiserem ter uma ideia mais aproximada vejam por exemplo o "Thelma e Louise".

Um parêntesis só pra dizer que pelo caminho comprei finalmente o meu novo MacBook Pro (de onde vos estou orgulhosamente a escrever e que substitui o outro, que se suicidou), o qual é aqui bem mais barato do que em Lisboa. Na loja da Apple fiquei a olhar de forma imbecil para o iPhone, que não posso comprar porque está bloqueado para uma companhia qualquer daqui da América e que só chega à Europa no fim do ano. É tão ridículo eu ter aquilo na mão e não poder comprar que me é difícil arranjar metáforas. É um bocado como ter um Ferrari e não ter dinheiro para a gasolina; ou como ter inteligência e negociar com a Fenprof; ou ter boa visão de jogo e ser gaja; ou ter talento e trabalhar na TVI. Não serve para nada.

Entrei na Califórnia (ou "Khalifornia", como diz Ahnold, o governador) pelo Sul. Depois de se passar uma cordilheira de montanhas e canyons, a paisagem muda subitamente de desértica em tons de castanho, bege e terracota para verdinha alface, quando nos aproximamos do litoral. A razão desta mudança súbita não tem a ver com qualquer fenómeno microclimático mas sim com mão humana: é resultado da política levada a cabo durante décadas, naturalmente polémica, de desviar rios inteiros dos seus cursos naturais, por forma a irrigar abundantemente o litoral (e secando-se assim o interior). Penso resignado que o país mais rico do mundo (e a Califórnia em particular, que se fosse um país seria o oitavo mais rico) pode fazer isto na boa, por mais bizarro que nos pareça e está até longe de ser o maior atentado ao ambiente que eles fizeram.

Comecei a exploração por San Diego, uma cidade que achei bem bonita, talvez porque faz um bocado lembrar o México, ou melhor, o México se o México tivesse dinheiro. Talvez porque me pareceu uma cidade americana mais humana do que o normal. Talvez tenha ajudado ver montes de coisas com nomes em espanhol, reflexo da bem sucedida miscigenação cultural, com a imigração maciça. Dito isto, para ser justo, devia também lembrar que a Califórnia seria ainda hoje por direito mexicana, se não tivesse sido roubada pelos Estados Unidos (em 1847). É aliás daqui que vem o slogan usado pelos movimentos de defesa dos direitos dos imigrantes: "we didn't cross the border; the border crossed us!".

Dá-me ideia que aqui na Califórnia tudo gira em volta da praia. Assim sendo, não podia deixar de ter mais essa dolorosa experiência de vida e, mimetizando os locais, atirei-me logo a uma prancha de surf. Rapidamente percebi que nenhum milagre aconteceu e portanto os meus resultados em cima da prancha não melhoraram nada. Concluo que afinal a culpa não é do Atlântico, por ter ondas de merda, como sempre aleguei. Percebo que a culpa é do Atlântico E do Pacífico! E o Pacífico é bué perigoso. Não me lembro de ter revisto a minha vida em flashback como naquele momento em que fiquei enrolado por uma parede de água, que me levou ao fundo, e em que fiquei alguns segundos sem saber onde era a parte de cima, o que me deixou na altura uma beca desorientado (eufemismo). Fiquei também a saber que a malta aqui também privatizou as ondas, no momento em que um pro passou por cima de mim na prancha aos berros de "my wave! my wave!". Pensei que podia tê-lo mandado literalmente para o inferno (em mar aberto é mais fácil fazer estas coisas do que pensam) mas vou armar em compreensivo e direi apenas que faz parte de um apurado sentido de propriedade. Aqui fica o registo dos campeões:
Também foi só quando cheguei aqui que, num momento de brilhantismo, me ocorreu que a malta da Flórida que olhava muito para mim na praia, não era tanto por causa do meu físico impressionante (não sou assim tããão goodlooking) mas sim porque aqui não se vêem uns speedos na praia provavelmente há umas três décadas. Quando percebi que era essa a razão, enfiei a cabeça debaixo da areia e fui depois a correr comprar uns calções abaixo do joelho, que doravante nunca mais largarei, nem no Meco.

Não quero terminar sem vos deixar uma bela imagem destas paragens:


(casa em Imperial Beach, San Diego, California)
No próximo episódio - Carlopod goes to Hollywood.

Tintim na América #5


Wal Mart

Hoje fui às compras. Fui seduzido pela autenticidade do Wal-Mart, esse "nirvana da America profunda", e pelo facto de ser praticamente o único sítio onde se pode fazer compras aqui na parvónia. O Wal Mart é uma multinacional de lojas gigantes, construídas na periferia dos aglomerados urbanos, uma beca mais foleiros que o Colombo, que têm estado sob fogo por parte das classes médias nostálgicas dos pequenos comércios (mom'n'pop stores) que havia nos centros das localidades e que foram todos destruídos pelo Wal Mart.

Penso em comprar aqui montes de presentes para todos os meus amigos que deixei em Portugal. Depois lembro-me que eles prezam sobretudo a minha amizade e carinho e apoio nas horas difíceis e compro um relógio para mim.

Tintim na América #4


Nação Bush

Antes de continuar, gostaria de agradecer aos meus vizinhos o facto de me deixarem usar as suas redes 'wireless'. Descobri que basta sair para a rua e andar m bocadinho, que encontramos logo net. Depois é só sentar à sombra de uma árvore e começar a escrever.

A qualquer sítio onde vá que tenha água, gosto de mergulhar nas profundezas e ver o aspecto lá em baixo. Queria conhecer umas cavernas que para aqui há, onde se faz mergulho, mas que implicam viajar para o interior. Assim fiz. Fui em direcção ao país rural, muito mais conservador, muito mais pobre, muito mais religioso do que o litoral. Verifico que a assimetria (entre os 'have' e os 'have-nots') é impressionante. A América que vai à Lua, vai ao fundo à mesma velocidade. Começamos a ver as casas daqueles que eles chamam 'white trash'. São casas que assustam, que estão rodeadas de lixo ou de carros velhos que há muito não funcionam mas cujos habitantes nunca se deram ao trabalho de se mandar para a lixeira. Começo a ver roulotes que são casas ou cabeleireiros, lojas que vendem armas+canas de pesca ("guns and fishing"), igrejas a cada esquina, com inscrições bizarras (uma oferecia um CD) e tabuletas pela estrada com apelos religiosos, sendo que a minha favorita foi esta:



...que do outro lado tinha escrito isto:



...que apreciei principalmente devido ao erro ortográfico numa das palavras inglesas mais comuns.

Fiquei com a sensação de que tinha acabado de entrar na autêntica 'Nação Bush'. Deu-me um calafrio pensar que estava ali a génese e o epicentro do conservadorismo americano, a ideologia mais poderosa da História. Pensando bem, é aquela gente que comanda o Mundo.

As pessoas com quem me cruzava não tinham um ar fixe. O ambiente não era baril e eram de certeza todos republicanos, que são por definição fdp. Parecia gente do género que tem sexo com os filhos. Lembrou-me um episódio 'creepy' dos X-Files, onde Mulder e Scully vão parar a uma casa onde há uma família 'inbreed', onde todos tiveram sexo com todos e todos nasceram no seio da família, sendo portanto todos assustadoramente 'freaks'. Lembrou-me também o 'Texas Chainsaw Massacre', filme de terror onde uns incautos (como eu) se envolvem com uma família de psicopatas pouco recomendáveis. Fugi de toda a gente. Ainda me cruzei com um xerife todo artilhado Rambo-style. Também fugi dele.

O esperado mergulho nas cavernas, não consegui fazer. Cheguei lá e contaram-me que alguém que quer comprar o parque onde elas estão deitou umas algas para a água para estragar a visibilidade e fazer assim baixar o preço. Brilhante!

Voltei para o litoral, ainda a tempo de ir à praia. Estava praticamente deserta: apenas duas famílias, uma delas, pai, mãe e dois filhos, toda vestida de branco (dá para topar que foi ideia da dona de casa, para incutir a ideia de pureza no seio da família) e outra onde pontifica um homem de charuto e calções com a bandeira americana. Havia também um indivíduo que cantava 'I'm on Fire' de Bruce Springsteen, com uma voz tal que mais parecia um cover do Bruce Springsteen pelos Bee Gees.

Tintim na América #3


Meu caro amigo eu quis até telefonar
mas a tarifa não tem graça.


(Chico Buarque)

Tintim na América #2


Red Neck Riviera

O voo seguinte levou-me ao pequeno aeroporto de Valparaiso, no norte da Flórida, uma zona privilegiada pela natureza mas jocosamente apelidada de "Red Neck Riviera", porque nos anos 60 e 70 era a zona de férias dos 'rednecks', um arquétipo aplicado em geral às classes trabalhadoras de brancos de zonas rurais de estados do sul.

Era já de noite quando lá cheguei e me fiz à estrada. A fome apertava precisamente quando dei de trombas com um desses 'drive-thru', onde a gente compra toda a espécie de 'junk food' sem sair do carro. Estes sítios funcionam assim: há um microfone onde primeiro fazemos a encomenda e depois andamos com o carro mas um bocadinho e para ir buscar a comida a uma janelinha que se abre mais à frente. O que achei estranho foi que, quando falei ao microfone, o tipo que me atendeu o pedido falava inglês com um forte sotaque indiano, tal qual o Apu dos Simpson (o Apu, para quem não se lembra, é o dono do 'Kwik-E-Mart'). Pois bem: vim a saber depois que estas empresas fazem agora 'outsourcing' e que o indivíduo com quem falei ao microfone estava, não no interior do estabelecimento mas sim...na Índia!

A viagem continuou, ainda meio zonzo com mais esta partida da globalização. Cheguei ao meu destino, fui directo para a cama e acordei às seis da manhã (coisas do jet-lag) com esta vista:


Era a altura de parar de pensar mal. Um dos locais mais bonitos onde estive. Todas as manhãs passei a acordar a esta hora para andar de kayak durante uma horita, antes do duche. Mais duas imagenzitas:



Nos meus passeios de kayak acabava sempre por ver malta a fazer jogging àquela hora da matina. Confesso que nunca percebi o que leva um ser humano racional a fazer estas corridas desenfreadas, comportando-se de forma obsessiva-compulsiva, sem propósito nenhum que não o de fazer exercício físico. E muito menos entendi como é que os americanos conseguiram exportar este hábito insane para o resto do mundo.

Ao tomar duche, volta-me logo a vontade de dizer mal. Aqui não têm o vulgar "telefone" na banheira, há só o chuveiro pendurado na parede e é escaldante. Ora bem: acontece-me sempre, ao fazer as transições água-morna-água-quente, queimar-me. Isto, porque a água chega retardada e, quando vejo que vem muito quente, a minha reacção é "f..." e encosto-me para trás. O problema é que, encostado na parte de trás da banheira, as minhas pernas ainda se estão a queimar, pois o chuveiro é impiedoso. No beco da banheira não tenho escapatória e tenho de me embrenhar outra vez no Inferno para voltar a pôr a água mais fria. Não sei se estão a ver o drama que isto é.

O resto do dia é normalmente passado a explorar a "Red Neck Riviera". Percebo que já não são pobres os que aqui vêm. Mas continuam a ser rednecks: conservadores, ignorantes, ultra-religiosos e....ricos. As zonas recentemente urbanizadas são uma tristeza de arquitectura e de ambiente, a lembrar discursos do Carvalhas. As casas mais ricas são em geral do estilo Vitoriano (para esta malta a ostentação de um certo nível de vida é sagrada) e de um mau-gosto que envergonharia até os condóminos do nosso Parque dos Príncipes. O filme "Truman Show", com Jim Carrey, sobre um homem que, aos 30 anos, percebe que sempre viveu dentro de uma comunidade "perfeita" que é, afinal um programa televisivo, foi filmado precisamente aqui (numa comunidade chamada Seaside, que existe mesmo, com regras de vida impensáveis, que têm que ser cumpridas escrupulosamente).

Os carros, carros normais, quase não existem. Todos os que para cá vêm de férias trazem enormes jupes, 'S.U.V.', 'pick-up trucks' e em particular os famosos Hummer, que ganharam notoriedade na primeira guerra do golfo e passaram a ser usados não apenas para fins militares mas também para recreio de americanos que os acharam tão "cool" nas imagens da CNN que os decidiram comprar, pouco sensibilizados que estavam pelo seu consumo exorbitante ou para os estragos que faz ao ambiente. É também giro ver os autocolantes sobre a guerra que eles colam nos carros, como "I support our troops" (ficamos a saber que quem não é a favor da guerra é como se não apoiasse os tropas no terreno); ou " Freedom is not free" ou ainda vários anti-aborto.

As praias, onde passei a ir à tarde até ao pôr-do sol, são lindas. As areias são brancas como a cal (são de origem calcária) e está mais quente dentro de água do que fora. Dá para fazer horas de 'bodysurfing', sem nunca ter frio. Algumas praias estão amontoadas de gente, outras, mesmo ao lado, estão desérticas.

À noite, caímos na ratoeira de experimentar um restaurante caro e piroso (tinha uma montra iluminada com uma mesa posta e uma garrafa de vinho embrulhada num guarnanapo só para vermos como sabem pôr a mesa). No final da refeição vem a pior notícia que podia ter, nesta fase da minha vida: têm "key lime pie", uma tarte de lima com origem na Flórida, que é a minha sobremesa favorita. Mesmo assim, resisto e como apenas doze.

Tintim na América #1



Aeroporto George Bush, Houston.
Afinal vim parar bem mais longe do que ao Dark Side of the Moon. Preparem-se vocês também para uma viagem à América profunda, aquela onde a realidade, aqui ou no Iraque, supera sempre Hollywood.

O projéctil que me levou em busca da América demorou dez horas e meia a fazer o trajecto Londres-Houston. O piloto culpou os ventos, eu culpo a trajectória que ele fez. Mas a viagem não foi má: havia uma escolha de 250 filmes e 250 séries de televisão. Demasiada escolha! Não consegui ver nenhum, limitei-me a ler sinopses e a ver trailers. Devo ter visto uns 150 trailers.

Houston foi só mais uma escala. Enquanto esperava pelo próximo voo, no aeroporto George Bush, percebi logo que estava num mundo diferente: tinha chegado ao planeta de origem de Jabba the Hutt, o monstro morbidamente obeso e hermafrodita de Star Wars. É impressionante. Os monstros passeiam-se no terminal do aeroporto com dificuldade, são obesos mas não maciçamente obesos como em Portugal ou na Europa. São muito obesos e em sítios improváveis, deformados, enormes, moles, com rabos e barrigas enormes, a cair para os lados... E são todos assim. Lembro-me de ter visto em Super Size Me que Houston é a cidade com mais obesos da América. Na obesidade, mais do que em tudo o resto, faz sentido a frase de que os texanos tanto se orgulham e que se lê em todas as matrículas deste Estado: "Everything is bigger in Texas". Pergunto-me: porquê??? mas porquê??? E, num daqueles raros momentos em que me sinto iluminado, olho para baixo e encontro a resposta: estou sentado num restaurante tex-mex do aeroporto chamado Chilly's, à frente de um gigantesco prato de "totopos con salsa picante", que me custou 2 dólares e bebo uma margarita carregada de sal e açúcar que deve ser mais ou menos de um litro.

Esta descoberta brilhante levou-me a outras divagações. Lembrei-me, por exemplo, que de cada vez que venho à América, cago diferente. Enquanto em Portugal largo umas caganitas, na América não. São uns cagalhões enormes, que se espraiam por toda a sanita, grossos, poderosos, invasivos. Enquanto estou com estes pensamentos, sou admoestado por uma intervenção do meu companheiro de viagem, que se lamenta, ao ver uma senhora com um rabo ainda maior que os outros, que "o rimming ali deve ser difícil".

Embrenhado nestas asserções filosóficas, decidi perguntar-me, como se perguntou Bernard-Henri Lévy na "Vertigem Americana":
- Não será esta execração anti-americana uma forma de fascínio?
Pensei um pouco e respondi-me:
- Não.

Querido Diário #9

Começaram as férias. Escrevo-vos de Londres, que é a minha escala antes de seguir para o Dark Side of the Moon. Não sei o quanto vos vou poder escrever de lá pois, como sabem, o Dark Side of the Moon tem este nome porque é a superfície da Lua oposta a que conseguimos ver da Terra. Lá, as comunicações com a Terra são impossíveis de fazer devido a massa da Lua (vidé Apolo 13).

As duas últimas imagens que guardei de Lisboa foram um cartaz de Telmo Correia e outro da pequena Maddie no aeroporto. Não consegui deixar de associar as duas coisas. Telmo Correia tem claramente cara de psicopata e imagino que qualquer retrato-robot de pedófilo nos poderia levar a ele. Mas também acredito que possa estar sugestionado por ele ser do PP. Não sei o que pensar. Apesar de tudo, as provas são inconsistentes.

Percebo que a procura pela pequena Maddie se estende por todo o lado. Já sentado no avião, faço a minha parte: por baixo do meu banco não está. Por momentos, antes da descolagem, quase tenho a certeza de ver o seu olho mau a fitar-me. Pura ilusão: não passava de um berlinde perdido no chão do avião.

Chego a Londres. Está a chover. Quase parece Lisboa.

Querido Diário #8

Finalmente consegui livrar-me do pastel de nata que me tinha caído no chão do carro. Ganhei uma alma nova!

(Razorblade, tens sais de frutos em casa? pastilhas Rennie? Kompensan?)

Querido Diário #7

Ontem o meu Medidor de Almas detectou que Razorblade ainda tinha 1% da sua alma, depois de ter vendido os outros 99% ao Diabo. Propus-lhe comprar esse 1%, a troco de um pastel de nata.
Engoliu-o num ápice.

Querido Diário #6

Acabo de sair de uma reunião. Perdi mais uma vez, vencido pelos argumentos superiores do meu colega RV. Ele não fala muito, mas tem uma técnica infalível. Sendo morbidamente obeso, antes de cada reunião, prepara-se: besunta os dedos, a testa e os sovacos com óleo, come 3 ou 4 dentes de alho, inspira pozinhos de espirrar que comprou no último Carnaval, leva um lenço previamente tratado e assim entra na sala de reuniões. Com esta técnica, consegue sempre o que quer em metade do tempo. No fundo, tiro-lhe o meu chapéu.

Querido Diário #5

Ontem deram-me a entender que preciso de aumentar os bíceps. A competição e a pressão social começa a ser grande. Tomei portanto a decisão de passar a usar dois ratos para o computador.

Querido Diário #4

Ontem não me sentia nada bem e comecei a filosofar: «Podem roubar-me a alma mas não me roubam o nome».
Hoje ligaram do Visa a dizer que alguém me roubou a identidade.

Querido Diário #3

Tenho um vasto reportório de canções, mas toda a gente se queixa de que desafino. É capaz de ser verdade. Mas descobri a solução: se ligar o meu ipod, puser os headphones e fizer karaoke com o que estou a ouvir, consigo soar exactamente como as bandas que estou a acompanhar. E não me engano nas letras.
Os outros continuam a queixar-se que desafino, mas agora já não concordo com eles.

Querido Diário #2

Acordei com uma borbulha na testa. Estou agora a tentar usar os meus conhecimentos de manipulação genética para a transformar num terceiro olho. Sempre achei que devemos fazer das nossas fraquezas forças.

Querido Diário #1


"e não haver gestos novos nem palavras novas!"

Foram estas as últimas palavras da Florbela Espanca no seu diário, a 2 de Dezembro de 1930. Cinco dias depois, no dia de seu aniversário, suicidou-se em Matosinhos, ingerindo uma dose excessiva de Veronal. Tinha 36 anos.

Os blogs são os diários do século XXI. Como este blog é muitas vezes acusado de ser impessoal, decidi passar a escrever aqui o meu diário. Não mais do que um parágrafo por dia. Só partilho o que é mesmo relevante para mim e que considero extremamente interessante para os outros.

Hoje, 4 de Maio de 2007, antes de entrar no carro comprei um pastel de nata. Dei-lhe uma dentada e coloquei-o no assento ao lado do condutor. Na primeira esquina, o pastel de nata rebolou. Quando o apanhei, estava cheio de cabelos que não deviam ser meus e havia nata derramada na porta e no chão entre o assento e a porta. O assento tinha vestígios do folhado, que se desprenderam. Apanhei-o com todo o cuidado. Tenho-o aqui. Ainda não decidi o que lhe vou fazer.

Off the record








Se não contarem nada a ninguém, mostro-vos neste dia este pequeno tesouro, que pouca gente sabe que existe e que mesmo depois de ouvir ainda há quem não consiga acreditar nos seus próprios ouvidos.

YES!


Descobri este quadro tão bonito que estava um bocado azulado, dei-lhe umas pinceladas com o Photoshop e já está! Ficou bom.

Parar o tempo

Seems like folks turn into things
that they´d never want

Tom Waits - I Don't Wanna Grow Up

Há dias

I've felt better.
I've felt worse.

Sunday's - Love

Os meus monstrinhos

My beloved monsters and me
We go everywhere together
Wearing a raincoat that has four sleeves
Gets us through all kinds of weather


Eels - My beloved monster

Tudo o que tenho para dizer

ég er kominn aftur
inn í þig
það er svo gott að vera hér
en stoppa stutt við
ég flýt um í neðarsjávar hýði
á hóteli
beintengdur við rafmagnstöfluna
og nærist
tjú tjú


Anagramas #5


Dia da Mulher =

= dedilhar uma
= dedilhar mau
= lume da hidra
= dá ar humilde
= dar-lhe um dia
= dá-lhe uma e ri
= dá-lhe da ruim
= ali dum harém
= urdiu a malha
= de malha dura


Eu juro que só tentei encontrar coisas boas. Encontrei isto.

Anagramas #4

o Paulo Portas =

= artola usa o PP
= o rato popular
= para pato luso
= para pató luso
= o tal puro sapo
= puta por lapso
= patroa a pulso
= puta ao sol pôr
= pus o oral apto
= pula os tropas
= saltos por pau
= apalpou atrás

Quod Erat Demonstrandum

Teorema: «Os militantes do CDS são muito estúpidos».

Demonstração:
- O CDS está em crise? Está.
- Porquê? Porque o líder não tem mão na oposição interna.
- Quem está por detrás da oposição interna? Paulo Portas.
- Paulo Portas propõe-se salvar o CDS de quê? Da crise.
- Vai ganhar? Vai.
- Então, os militantes do CDS são estúpidos? Muito.

Classificados #1

Uma vizinha minha, que fazia abortos clandestinos, pôs à venda bem barato alguns utensílios de trabalho que agora com a vitória do SIM já não poderá utilizar mais. Quem quiser aproveite os saldos.



Anagramas #3

são valentim =

= aval sem tino
= lava sem tino
= vala sem tino
= sem ti não val
= vale mil notas
= nela me visto
= anel me visto
= lava-me nisto
= vos meti anal
= temos vaselina
= vaso mel em ti
= anais em volt
= volt seminal
= vos alimento
= mistela nova
= amo-te saliva
= tomas venial
= sonata em vil
= antes amo vil
= é vil o tanas
= vá mais lento
= leva-me tanso
= aviso mental
= má novelista

Anagramas #2

cláudio ramos = maluca do riso
pedro crispim = pipi sem dores
josé castelo branco = anjo, esbelto, cócoras
manuel luís goucha = achega o sino, lulu
paulo portas = apalpou atrás
eduardo beauté = dobrada, eu e tu
carlos castro = o calor atrás

Anagramas #1

Não obrigada! = Agonia dobra!
Assim não! = Mais asno!
Pela vida! = Veda Pila!
Adopção em vez de aborto! = Amo voz de beata no corpo!
O aborto não é a solução! = Ataca o rabo oleoso nu!

As previsões do Grande Carlopod para 2007


Como as minhas previsões para o ano seguinte são em geral infalíveis, resolvi começar a publicá-las, para a partir do próximo ano começar a cobrar algum. Aviso já o meus amigos que passo a adoptar também o nome artístico de O Grande Carlopod (entendam isto como um "hint").

Aqui vão elas:

- o ano de 2007 vai ser de tensão entre o Ocidente e o Islão;
- o Bin Laden (Ben Laden para o DN) não vai ser apanhado;
- os americanos vão mandar ainda mais soldados para o Iraque, mas como eles vão morrendo o contingente fica ela por ela;
- o Presidente Bush (como também se podia deduzir da previsão anterior) não vai ficar mais esperto;
- o papa Bento XVI vai obcecar cada vez mais com as partes baixas dos católicos e no Natal de 2007 vai novamente condenar os homossexuais, os métodos contraceptivos e o aborto, como maiores malefícios da humanidade;
- o Fidel Castro vai ser substituído pelo irmão;
- a Hillary Clinton vai tentar substituir o homem que substituíu o marido;
- o Jebb Bush vai tentar substituir o irmão, para que a mulher do homem que substituíu o pai não substitua o irmão;
- em Portugal, vai continuar a praticar-se o aborto clandestino, independentemente dos resultados do referendo;
- a PT vai continuar a ser a empresa mais aldrabona de Portugal, mesmo depois de comprada pela Sonaecom;
- os bancos não vão passar a pagar mais impostos;
- o Durão Barroso vai continuar a engordar;
- o José António Saraiva vai continuar sem ser internado;
- o Nuno Melo vai continuar a usar os fatos que eram do Portas em 2004;
- o João Almeida continuará a tentar imitar os penteados do Nuno Melo e terá inexplicavelmente cada vez mais boca de broche;
- o Telmo Correia e o Correia de Campos continuarão a ir ao mesmo oculista na rua dos Fanqueiros;
- o Marques Mendes não vai passar a ter mais estatura política (ou outra);
- o Santana Lopes vai ter uma namorada nova e a sua nova ex-namorada passa para o Nuno Melo;
- a Elsa Raposo vai ter mais umas tatuagens novas com os nomes dos namorados, umas em cima das outras;
- a Betty Graffstein vai continuar sem mudar de sexo, apesar das insistências do marido;
- o Pinto da Costa, o Valentim Loureiro, o José Veiga e o João Pinto continuarão a monte;
- os jogadores de futebol vão continuar a dar entrevistas falando de si próprios na terceira pessoa;
- as vítimas da Casa Pia passam a arguidos;
- vão continuar os Morangos com Açucar e o Preço Certo;
- o Mário Augusto vai continuar a não ter aulas de inglês e a não saber nada de cinema e nem por isso vai ser despedido;
- os telejornais vão continuar a fazer entrevistas de rua;

Tintim na Coreia do Norte #5

13 de Setembro
Na véspera do regresso, fomos levados à Exposição Internacional da Amizade, um museu gigantesco, em dois pavilhões, com as ofertas dadas por outros países aos dois Líderes. O pavilhão dedicado ao Grande Líder ostenta 220.000 presentes, enquanto o dedicado ao Querido Líder apenas 50.000 (alegadamente porque os anos 90 foram de crise, baptizados de “a árdua marcha”, tendo por isso havido menos presentes). A exposição é absolutamente fabulosa, podia ser facilmente renomeada de Museu do Kitsh. Chamaram a minha atenção os carros oferecidos por Estaline, sobretudo um lindo Zil dos anos 50, à prova de bala e pesando 6 toneladas e também uma carruagem de comboio oferecida por Estaline e outra por Mao, que fariam inveja ao Expresso do Oriente. Fiquei siderado ao ver que Ramalho Eanes, já nos anos 90, muito depois de ter deixado a presidência, ainda enviou três presentes a Kim Il Sung. Talvez este dado, fornecido aos historiadores, possa contribuir para compreender melhor esta figura enigmática da nossa História. Encontrei também presentes do PRD e de Costa Gomes. Nenhum do PCP. O Grande Líder deve ter gostado muito dos nossos galos de Barcelos, da loiça das Caldas e dos barquinhos de filigrana. Momento mais delirante desta experiência: quando entrámos num salão onde se ouvia uma música celestial e tivemos que nos curvar perante um boneco de Kim Il Sung em cera.

14 de Setembro
O dia da partida ainda tinha reservado uma surpresa: já no avião, a hospedeira, falando em inglês, anunciou ao microfone que íamos “voar para Pequim, na China, país que cooperou com a Coreia na luta contra os imperialistas japoneses”. Disse depois que nos iam “servir uma bebida, exultada pelo Querido Líder Camarada Kim Jong Il e fornecida ao povo pelos benefícios que traz para a saúde”. Era cidra.
Foi a cereja no topo do bolo.

Tintim na Coreia do Norte #4

(Mausoléu de Kim Il Sung)
8 de Setembro
Dia de explorar a natureza, no “mini-Kumgang”. Não pudemos fazer trekking, porque alegadamente há manobras militares naquela zona. Pareceu-nos mais uma desculpa para os guias não terem que subir montanhas, já que não nos podem perder de vista.
Passeámos e fizemos um piquenique no bonito parque Moranbong. Parecia ser o único sítio até agora a salvo de referências aos líderes. Parecia, mas não era: de entre os muitos bancos de pedra, havia lá um que tinha por cima uma placa de vidro, com umas inscrições gravadas. Pois, era isso. Um dos Kims, um dia, tinha-se lá sentado.

9 de Setembro
Este é o dia nacional da Coreia do Norte, dia de festa, onde teríamos assistido ao festival Arirang, de dança sincronizada em massa, da qual a Coreia do Norte é campeã do mundo, que foi no entanto cancelado por causa das cheias. Teria sido o ponto mais alto da viagem, mas acabámos por ver só uma versão mais modesta do acontecimento. Assim, passámos o dia a visitar os monumentos principais. Começámos o dia a depôr flores aos pés da estátua de Kim Il Sung e mais tarde também no cemitério dos heróis da guerra da Coreia, no qual cada herói teve direito a estátua personalizada por cima da campa. Depusémo-las mais precisamente na campa da mãe de Kim Jong Il. Na Juche Tower (“Juche” é o nome da filosofia sócio-política criada por Kim Il Sung, remotamente baseada no marxismo e no maoismo e no princípio de que o Homem consegue mudar o ambiente que o rodeia) havia umas placas oferecidas por seguidores de todo o mundo, de onde sobressaíam placas dos “Comités de Estudo do Kimilsunguismo” da Amadora, Loures e Estoril. Eles estão mais perto do que eu imaginava.
À noite, conseguimos finalmente ver televisão da Coreia do Norte. Era o Telejornal. Uma só notícia: a visita do Querido Líder a uma fábrica, onde foi fazer "on the spot guidance". Mas não era uma gravação vídeo daquela visita, não senhor: as imagens do jornal televisivo eram "slides".

10 de Setembro
O momento mais alto da viagem foi neste dia. Para adicionar à minha colecção de personalidades embalsamadas (que já contava com Lenine e Mao), juntou-se aqui Kim Il Sung (acho que agora só me falta Ho Chi Minh). Mas, comparados com Kim Il Sung, os outros são brincadeiras de crianças. São todos vistos a correr e o mausoléu de Mao, na sala seguinte àquela onde está exposto o corpo, até tem barracas com venda de brindes com a efígie de Mao (incluindo um relógio, em que o braço dele acena enquanto faz tic-tac).
Aqui, é muito diferente. Respeita-se o morto. O gigantesco Mausoléu, talvez do tamanho do Centro Cultural de Belém, fica ao cimo de uma enorme avenida, no centro da cidade, sem prédios, só com espaços verdes, para onde se entra depois de passarmos por um monumento de respeito. Há também um eléctrico todo aperaltado, só para fazer aquele trajecto. A audiência com o morto foi marcada com antecedência e tínhamos sido avisados que tínhamos que ir bem vestidos, com camisa de botões e preferencialmente com gravata. Esperámos numa sala de espera e, quando chegou a hora, entrámos no edifício, onde passámos à frente de um grupo de coreanos em excursão, umas cem pessoas, que olhavam para nós como se nunca tivessem visto uma pessoa da nossa raça. E provavelmente alguns não tinham mesmo. Passámos depois por um tapete rolante, felpudo, que nos limpava os sapatos, depois por um pano húmido no chão que acabava com as impurezas que restassem. Deixámos de seguida tudo o que tivéssemos nos bolsos à entrada, até os cigarros, ainda passámos por um detector de metais e fomos depois revistados. Seguiu-se uma sucessão de corredores gigantes, como os do Feiticeiro de Oz, com passadeiras rolantes, onde não podíamos andar, ficávamos parados de pé até que as passadeiras nos levassem ao local. Ao fim de uns quinze minutos de passadeiras, entrámos então os quatro (nós os dois e os dois guias) numa enorme sala, onde havia ao fim uma estátua branca impressionante de Kim Il Sung, de uns dez metros de altura, com uma parede iluminada de rosa por trás, onde ele olhava de cima para nós com ar paternalista. Curvámo-nos os quatro perante a estátua. Seguiu-se outra sala e finalmente a entrada para a câmara onde está o corpo. A entrada para a câmara é um corredor de onde sopram fortes jactos de ar purificador, com desinfectante, para cima de nós. O corpo lá estava, ao meio da sala, numa redoma de vidro, coberto por um pano vermelho. Curvámo-nos os quatro perante o morto, quatro vezes, aos pés, à cabeça e de cada um dos lados. Passado este clímax, ainda visitámos uma sala com todas as condecorações recebidas pelo Grande Líder, ainda uma outra com a carruagem de comboio onde ele percorria o país fazendo “on the spot guidance”, uma terceira com o seu último Mercedes (exposto com as rodas em cima de quatro espécies de pedestais em mármore) e finalmente uma quarta onde havia uns baixos-relevos em bronze, gravadas com multidões a chorar em desespero, enquanto uma guia explicava em pranto e aos soluços a um grupo de soldados, o quanto o povo chorou a morte do Grande Líder Presidente Kim Il Sung, que lhes foi enviado do céu (“from the sky”, segundo a tradução que ouvíamos nos nossos auriculares, fornecidos à entrada da sala).

Tintim na Coreia do Norte #3

(Mausoléu de Kim Il Sung)
8 de Setembro
Dia de explorar a natureza, no “mini-Kumgang”. Não pudemos fazer trekking, porque alegadamente há manobras militares naquela zona. Pareceu-nos mais uma desculpa para os guias não terem que subir montanhas, já que não nos podem perder de vista.
Passeámos e fizemos um piquenique no bonito parque Moranbong. Parecia ser o único sítio até agora a salvo de referências aos líderes. Parecia, mas não era: de entre os muitos bancos de pedra, havia lá um que tinha por cima uma placa de vidro, com umas inscrições gravadas. Pois, era isso. Um dos Kims, um dia, tinha-se lá sentado.

9 de Setembro
Este é o dia nacional da Coreia do Norte, dia de festa, onde teríamos assistido ao festival Arirang, de dança sincronizada em massa, da qual a Coreia do Norte é campeã do mundo, que foi no entanto cancelado por causa das cheias. Teria sido o ponto mais alto da viagem, mas acabámos por ver só uma versão mais modesta do acontecimento. Assim, passámos o dia a visitar os monumentos principais. Começámos o dia a depôr flores aos pés da estátua de Kim Il Sung e mais tarde também no cemitério dos heróis da guerra da Coreia, no qual cada herói teve direito a estátua personalizada por cima da campa. Depusémo-las mais precisamente na campa da mãe de Kim Jong Il. Na Juche Tower (“Juche” é o nome da filosofia sócio-política criada por Kim Il Sung, remotamente baseada no marxismo e no maoismo e no princípio de que o Homem consegue mudar o ambiente que o rodeia) havia umas placas oferecidas por seguidores de todo o mundo, de onde sobressaíam placas dos “Comités de Estudo do Kimilsunguismo” da Amadora, Loures e Estoril. Eles estão mais perto do que eu imaginava.
À noite, conseguimos finalmente ver televisão da Coreia do Norte. Era o Telejornal. Uma só notícia: a visita do Querido Líder a uma fábrica, onde foi fazer "on the spot guidance". Mas não era uma gravação vídeo daquela visita, não senhor: as imagens do jornal televisivo eram "slides".

10 de Setembro
O momento mais alto da viagem foi neste dia. Para adicionar à minha colecção de personalidades embalsamadas (que já contava com Lenine e Mao), juntou-se aqui Kim Il Sung (acho que agora só me falta Ho Chi Minh). Mas, comparados com Kim Il Sung, os outros são brincadeiras de crianças. São todos vistos a correr e o mausoléu de Mao, na sala seguinte àquela onde está exposto o corpo, até tem barracas com venda de brindes com a efígie de Mao (incluindo um relógio, em que o braço dele acena enquanto faz tic-tac).
Aqui, é muito diferente. Respeita-se o morto. O gigantesco Mausoléu, talvez do tamanho do Centro Cultural de Belém, fica ao cimo de uma enorme avenida, no centro da cidade, sem prédios, só com espaços verdes, para onde se entra depois de passarmos por um monumento de respeito. Há também um eléctrico todo aperaltado, só para fazer aquele trajecto. A audiência com o morto foi marcada com antecedência e tínhamos sido avisados que tínhamos que ir bem vestidos, com camisa de botões e preferencialmente com gravata. Esperámos numa sala de espera e, quando chegou a hora, entrámos no edifício, onde passámos à frente de um grupo de coreanos em excursão, umas cem pessoas, que olhavam para nós como se nunca tivessem visto uma pessoa da nossa raça. E provavelmente alguns não tinham mesmo. Passámos depois por um tapete rolante, felpudo, que nos limpava os sapatos, depois por um pano húmido no chão que acabava com as impurezas que restassem. Deixámos de seguida tudo o que tivéssemos nos bolsos à entrada, até os cigarros, ainda passámos por um detector de metais e fomos depois revistados. Seguiu-se uma sucessão de corredores gigantes, como os do Feiticeiro de Oz, com passadeiras rolantes, onde não podíamos andar, ficávamos parados de pé até que as passadeiras nos levassem ao local. Ao fim de uns quinze minutos de passadeiras, entrámos então os quatro (nós os dois e os dois guias) numa enorme sala, onde havia ao fim uma estátua branca impressionante de Kim Il Sung, de uns dez metros de altura, com uma parede iluminada de rosa por trás, onde ele olhava de cima para nós com ar paternalista. Curvámo-nos os quatro perante a estátua. Seguiu-se outra sala e finalmente a entrada para a câmara onde está o corpo. A entrada para a câmara é um corredor de onde sopram fortes jactos de ar purificador, com desinfectante, para cima de nós. O corpo lá estava, ao meio da sala, numa redoma de vidro, coberto por um pano vermelho. Curvámo-nos os quatro perante o morto, quatro vezes, aos pés, à cabeça e de cada um dos lados. Passado este clímax, ainda visitámos uma sala com todas as condecorações recebidas pelo Grande Líder, ainda uma outra com a carruagem de comboio onde ele percorria o país fazendo “on the spot guidance”, uma terceira com o seu último Mercedes (exposto com as rodas em cima de quatro espécies de pedestais em mármore) e finalmente uma quarta onde havia uns baixos-relevos em bronze, gravadas com multidões a chorar em desespero, enquanto uma guia explicava em pranto e aos soluços a um grupo de soldados, o quanto o povo chorou a morte do Grande Líder Presidente Kim Il Sung, que lhes foi enviado do céu (“from the sky”, segundo a tradução que ouvíamos nos nossos auriculares, fornecidos à entrada da sala).

Tintim na Coreia do Norte #2

(interior da Biblioteca ou Great People's Study Center)
6 de Setembro
Visita guiada a Pyongyang. Começamos pelas origens, uma visita ao local de nascença de Kim Il Sung, no subúrbio da cidade, transformado num santuário de peregrinação. Uma cabana modesta, agora integrada num parque enorme. O nascimento foi em 1912 e esse ano deu origem a um novo calendário, pelo que o ano de 1912 para eles é o “Juche 0” e agora, em 2006, estamos no “Juche 94”. Kim Jong Il, o filho, terá nascido em 1942, também numa cabana, no sopé do monte Paektu, um monte sagrado desde há séculos para os coreanos, num dia em que dois arco-íris cruzaram os céus. A ocasião está imortalizada em painéis públicos por todo o país, mostrando o monte e a cabana. Investigámos e o pai estava exilado na União Soviética naquele ano. Resistimos a perguntar aos guias como é que isso se explica. Desde pequenos que estamos habituados a outras lendas sobre Messias que nascem em cabanas.
Nesse dia, outra visita para lembrar foi à biblioteca nacional, um edifício monumental, com centenas de salas, todas decoradas com quadros dos dois Kims. Descobri que têm Internet, embora só com acesso a sites norte-coreanos: “temos mais de 50 sites, só do nosso país” – disse a guia.

7 de Setembro
Viajámos até Wonsan, na costa leste do país. Nas estradas, as pessoas andavam a pé. Eram quase todos militares (serviço militar obrigatório de 5-8 anos para os homens, 3-5 anos para as mulheres). Comecei a ver vários camiões militares, todos a deitar uma enorme cortina de fumo do motor. Não era possível estarem todos avariados! Pois não. Eram movidos a carvão. Os soldados vão deitando carvão para servir o motor, ao longo da viagem. Bela forma de reduzir a dependência do petróleo.
Vamos vendo enormes colunas de betão, de um lado e do outro da estrada. Têm que estar prevenidos: as colunas são para dinamitar, se houver uma invasão de sul.
Em Wonsan aprendemos o significado de um dos pilares do regime, o conceito de “on the spot guidance”. Kim Il Sung passou a vida a visitar o país e dar instruções em cada local (“on the spot”) sobre como fazer as coisas. Em cada local onde ele foi há uma tabuleta em pedra a assinalar o acto, indicado a data e o que ele disse. Então, fomos a um templo budista, um dos poucos autorizados, em que o monge nos contou como Kim Il Sung lhe tinha ensinado a praticar o budismo; a uma cooperativa agrícola onde ele ensinou aos agricultores como cultivar; e por aí fora. Na cooperativa, a responsável contou-nos uma história que parecia tirada da Bíblia: quando Kim Il Sung lá foi, nos anos oitenta, o responsável da cooperativa disse-lhe: “nesta árvore devem estar uns quinhentos frutos”. Ele respondeu-lhe: “não, estão uns oitocentos”. Contaram-nos: havia 803!
Nesse dia ainda visitámos um campo de férias infantil, a quem o Querido Líder Camarada Kim Jong Il tinha oferecido pessoalmente a tenda, o escorrega, etc. Era ali que começava a entronização.

Tintim na Coreia do Norte #1


Resolvi brindar-vos com um diário da minha estadia na Coreia do Norte. São só pequenos apontamentos. Foi já no final das férias que me lembrei de começar a tirar notas, quanto mais não fosse para eu próprio não me esquecer nunca dos preciosos pormenores desta viagem, a mais bizarra que já fiz.

5 de Setembro
A excitação começou logo no aeroporto de Pequim: no check-in, à nossa frente, um grupo de 27 homens, todos vestidos de igual, todos com malas da mesma marca (“Diplomat”), que se diferenciavam umas das outras por um número. Todos com um pin na lapela com a cara de Kim Il Sung. Comecei logo ali a cobiçar aqueles pins.
O avião, da Koryo Air, não se parecia com um Boeing ou Airbus ou nada feito para voar nesta década. Na primeira classe havia bordados à mão nas cadeiras e almofadas bordadas também à mão. Na classe turística, as cadeiras pareciam-se mais com as de um autocarro antigo do que as de um avião. A alcatifa era alta, como era moda nos anos 70. Era um avião muito bonito.
O aeroporto de Pyongyang é um aeroporto calmo: naquela semana, a mais procurada do ano por causa dos festejos no país, quando se concentram os turistas, iriam haver apenas três voos internacionais, dois com a China e um com o Vietname. Os poucos estrangeiros que não sabiam que tinham que deixar os telemóveis em Pequim, têm que os deixar no aeroporto. Livros que mostrem o modo de vida fora da Coreia do Norte também não passam. E é também o único aeroporto que conheço que tem uma máquina de raio x, um detector de metais e revista ao corpo e às malas à chegada!
Chegámos então ao país dos Kims: Kim Il Sung, nunca referido pelos coreanos só como Kim Il Sung (a lenga-lenga é “O Grande Líder Presidente Kim Il Sung” – digo Presidente porque foi recentemente eleito Presidente perpétuo); o filho, um grau abaixo, era sempre, sem excepção, referido como “O Querido Líder Camarada Kim Jong Il". A guia chamava-se Kim, o motorista chamava-se Kim. O outro guia era Che. Todos com os tais pins de Kim Il Sung. Comecei a obcecar com aqueles pins. Reparei depois que todos os coreanos os tinham. Milhões e milhões de pins na rua.
Na estrada do aeroporto para a cidade viam-se muito poucos carros, a maior parte deles militares, muitas bicicletas mas quase toda a gente andava a pé. Começámos a ver sucederem-se os enormes posters e painéis em mosaico dos Kim, e outros revolucionários, que povoam as cidades e também os campos, a colorir a paisagem. Outros cartazes exibiam flores, duas espécies de flores, que viemos a saber chamarem-se Kimilsungilia e Kimjungilia, em homenagem dá para perceber a quem.
A primeira visita foi ao Arco do Triunfo, construído para comemorar a "vitória" na guerra da Coreia, por ocasião do septuagésimo aniversário do líder e por isso decorado com 70 pedras de granito. Não vou entrar em mais detalhes, mas toda a engenharia do monumento foi feita no respeito por números com significado relacionados com o Grande Líder.
À noite, pedimos para passear pela cidade, de carro. Era uma cidade fantasma: depois das 18h, os carros estão proibidos de circular sem uma autorização especial, que o nosso, graças ao Querido Líder, tinha.