13 de Setembro
Na véspera do regresso, fomos levados à Exposição Internacional da Amizade, um museu gigantesco, em dois pavilhões, com as ofertas dadas por outros países aos dois Líderes. O pavilhão dedicado ao Grande Líder ostenta 220.000 presentes, enquanto o dedicado ao Querido Líder apenas 50.000 (alegadamente porque os anos 90 foram de crise, baptizados de “a árdua marcha”, tendo por isso havido menos presentes). A exposição é absolutamente fabulosa, podia ser facilmente renomeada de Museu do Kitsh. Chamaram a minha atenção os carros oferecidos por Estaline, sobretudo um lindo Zil dos anos 50, à prova de bala e pesando 6 toneladas e também uma carruagem de comboio oferecida por Estaline e outra por Mao, que fariam inveja ao Expresso do Oriente. Fiquei siderado ao ver que Ramalho Eanes, já nos anos 90, muito depois de ter deixado a presidência, ainda enviou três presentes a Kim Il Sung. Talvez este dado, fornecido aos historiadores, possa contribuir para compreender melhor esta figura enigmática da nossa História. Encontrei também presentes do PRD e de Costa Gomes. Nenhum do PCP. O Grande Líder deve ter gostado muito dos nossos galos de Barcelos, da loiça das Caldas e dos barquinhos de filigrana. Momento mais delirante desta experiência: quando entrámos num salão onde se ouvia uma música celestial e tivemos que nos curvar perante um boneco de Kim Il Sung em cera.
14 de Setembro
O dia da partida ainda tinha reservado uma surpresa: já no avião, a hospedeira, falando em inglês, anunciou ao microfone que íamos “voar para Pequim, na China, país que cooperou com a Coreia na luta contra os imperialistas japoneses”. Disse depois que nos iam “servir uma bebida, exultada pelo Querido Líder Camarada Kim Jong Il e fornecida ao povo pelos benefícios que traz para a saúde”. Era cidra.
Foi a cereja no topo do bolo.