Na casa de banho do restaurante do Ocean Club, Kate olha-se ao espelho e repara que as madeixas, que tinha feito há quinze dias, já perderam toda a graça. É notória a consternação na sua expressão preocupada. Solta o cabelo, abana a cabeça como nos anúncios dos champôs, e diz para si mesma: "Que aborrecimento, amanhã tenho de ir ao cabeleireiro". Depois, esbugalha os olhos e lembra-se que tinha de fazer um telefonema. Não se lembra é para onde. "O Mateus Rosé não me faz nada bem à cabeça", diz, ainda em frente ao espelho.
Resolve, então ir até à recepção do aldeamento. Sempre com um ar muito pensativo, chega à recepção e olha para o telefone. A televisão do lobby do hotel estava na Skynews. Kate detem-se, faz um esgar e lembra-se que a filha tinha desaparecido. Olha para o telefone, olha para a televisão e diz para si mesma: "Recusaram-me quando concorri a locutora de continuidade, mas agora vão ter de levar comigo."
Marca um número e canta:
Depois de desligar, pensa: "Se calhar dava jeito telefonar também para a polícia." Faz uma careta, revira os olhos e no fundo do palco aparece a imagem de um homem fardado, baixo, de bigode e com um palito na boca.
Uma garrafa de Mateus Rosé depois, dois polícias aparecem na recepção do Ocean Club. Kate surpreende-se pois se um dos polícias era como tinha imaginado, mas sem o palito, o outro era um rapaz todo garboso. Kate corre para este, com o brinquedo preferido de Madeleine, um gato de peluche, apertado com ambas as mãos entre os seios e diz, com os olhos muito abertos e um desespero na voz: "Mr. Policia, minha Maddie raptada. Eu sei, eu sei... (ligeiros soluços)... cuddle cat dela estar parapeito da window aberto. Maddie muito small para chegar lá, Mr. Policia."
O polícia, que não gostava de Mateus Rosé mas tinha uma especial predilecção por carrascão de Setúbal, olha para os seios arrebitados de Kate e murmura numa voz quase imperceptível: "Ah! se eu fosse esse gato..."
O jovem polícia canta, como num sonho:
Com uma expressão confusa, Kate responde: "Que diz, Mr. Policia?" Ele abana a cabeça, como se despertasse de um sonho, e responde: "Se ao menos o gato falasse, Madame, se ao menos o gato falasse poderiamos ficar a saber o que aconteceu à pequena!"
Os dois são intrerrompidos pelo primeiro polícia algarvio que, enquanto cofia o bigode, como Poirot, acrescenta em tom filosófico: "Nasce a gente e de repente corre este risco sem par de morrer logo à nascença ou de ter que cá ficar". Kate, confusa, volta a perguntar: "Como diz?"
Canta o primeiro polícia:
(continua)